sexta-feira, 15 de julho de 2011

O entusiasmo do futebol


O artigo a seguir é de autoria de Sócrates, jogador que integrou a fantástica seleção brasileira de 1982, um grande jogador que sem dúvida sempre será lembrado pelo talento que exibiu nos gramados.
Gostei muito deste artigo e confesso que me surpreendi. Nele, Sócrates aborda o futebol de uma maneira diferente da forma como estamos acostumados a ver, analisando não só  as emoções envolvidas nele, mas como ele é e foi usado ao longo dos tempos por políticos e grupos, que na defesa de seus interesses, o usam como uma ferramenta de alienação e manipulação.

Eu não sou contra o futebol ou qualquer outro esporte, pelo contrário, gosto de assistir uma boa partida de futebol,  torço pelo meu Tricolor, aprecio a Fórmula 1, acho saudável as brincadeiras entre torcedores. O futebol é um esporte grandioso, democrático, ele reflete a nossa sociedade, tão explorada, dilacerada, fadada a todos os percalços , porém somos uma gente que se faz feliz, que batalha,, que briga, que luta e corre atrás dos resultados. Isso é futebol !  A beleza do drible, o lançamento maestral, a expectativa do último passe, pela armação, dos pés, pelo golaço,  seja do craque ou do perna de pau,  isso nos contagia !
O que me revolta é a forma UFANISTA e Exacerbada como a Rede Globo e seu Narrador Galvão Bueno usam o futebol para esconder os problemas existentes em nosso país, encobrir seus erros, seus métodos, a sujeira instalada ; como se o fato de o Brasil ganhar uma copa resolvesse e justificasse a corrupção desenfreada praticada pelos governantes e a maneira como essa rede de televisão usa um esporte tão apaixonante como forma de manipulação.
Talvez a mídia consiga minar a paixão e o gosto pelo futebol, transformar o espetáculo em especulações, em algo alienador, mas o negócio é renegar ou ignorar a existência de uma imprensa podre e corrupta e torcer de forma alegre e saudável pelo time de coração.

Quem dera houvesse no Brasil o mesmo entusiasmo para resolver injustiças como o salário mínimo, as desigualdades sociais, a corrupção escancarada de nossos governantes, as injustiças com os aposentados, a forma como está nossa saúde e a roubalheira sem limites que se alastra e é indiscriminadamente praticada pelos políticos desse país! E depois vem o ufanista  do Galvão Bueno com aquele falso patriotismo, com aquela história pra boi dormir de coração na ponta das chuteiras, como se ser brasileiro é torcer por um time repleto de jogadores que na sua maioria  só querem aparecer... o vídeo a seguir do humorita Marcelo Adnet  ilustra bem isso, embora ele use uma linguagem as vezes torpe, mas bem peculiar dos "heróis da amarelinha" :



Para os "patriotas de chuteiras", que choram pela seleção...esse vídeo é bem a realidade do que a maioria, não todos, mas a maioria dos jogadores da seleção pensam. Aliás pensar não é propriamente a especialidade deles, pois nossos jogadores são craques dentro de campo mas nulidades fora deles quando o assunto é conhecimento e cultura geral. A maioria deles está completamente desinformada sobre a dura realidade pela qual passa o brasileiro trabalhador e que necessita de transportes e serviços públicos como educação e saúde. Eles vivem outra realidade com seus carrões, festas, hotéis de luxo...
Nada mais são que  um instrumento de manipulação do povo seja para encobrir a corrupção, como já disse, como para gerar dividendos para a famigerada rede de televisão.

Assim Rede Globo, Galvão Bueno e sua trupe iludem  o brasileiro, deixando-o sem um mínimo de noção do que é realmente ser patriota,  a favor do bem e de melhoria das condições de vida do povo de nosso país !  

Como disse Sócrates no textoa seguir, quem dera um dia endereçar esse entusiasmo que gastamos no futebol em algo positivo para a humanidade, em causas  mais tocantes  que não comovem tanto quanto o futebol; como as crianças nas ruas, os terremotos, os tsunamis, a miséria extrema no coração da África e em alguns outros recantos, o genocídio, o combate e a mobilização contra  a extrema corrupção em nosso país  e muitas outras?
É algo para  se pensar .

O entusiasmo do futebol
Por Sócrates

Por que o futebol causa tanto fascínio nas multidões? Por que tanta paixão, alegria ou lágrimas desenfreadas? Pensando bem, não deveria ser assim, já que o mundo do futebol é como uma roda gigante eternamente girando em torno de seu eixo central. Equipes ganham torneios, outras perdem. No ano seguinte, tudo geralmente é diferente. As vitórias causam euforia, as derrotas depressão. Passados esses momentos de alteração emocional tudo volta a zero e recomeça como se nada tivesse acontecido. Que algo mágico há no futebol que faz com que uma nação inteira se una?

Algo raro em países como o Brasil, onde o espírito comunitário (somos muito mais solidários que comunitários e mais individualistas do que se possa imaginar) e a aproximação entre desconhecidos só se dá entorno do futebol. Se fosse só aqui poderíamos imaginar alguma idiossincrasia nossa - como é o carnaval. Porém, ele ultrapassa línguas, religiões, raças, culturas, ideologias, países - como os que logo se enfrentarão em busca do título da Copa América. Que esporte é esse que cria confrontos e os acomoda, que multiplica rivalidades históricas fruto de conflitos de terras entre países vizinhos e ao mesmo tempo os coloca lado a lado em um campo de jogo a se respeitar?

Os outros esportes não criam torcidas perenes e uníssonas; elas só aparecem temporariamente quando dos grandes eventos. Por que causas mais tocantes não comovem tanto quanto o futebol; como as crianças nas ruas, os terremotos, os tsunamis, a miséria extrema no coração da África e em alguns outros recantos, o genocídio e muitas outras?

Quando a equipe vence uma competição a cidade para, a gente sai às ruas, os fogos aparecem, os torcedores se embebedam em uma enorme festa que já no dia seguinte é velha o suficiente para gerar expectativas para o próximo torneio. É fugaz toda essa explosão de euforia. Uma droga talvez tivesse um efeito mais duradouro, mas nunca teria um número tão alto de usuários. E o futebol, quando não oferece a vitória, provoca reações incontroláveis das massas que saem destruindo tudo o que veem pela frente, colocam fogo no mesmo estandarte que minutos antes beijavam, enfrentam as forças de segurança de peito aberto e sem armas como se eventuais outras agressões fossem menores e menos doloridas. A insanidade se estabelece em toda a sua expressão humana. Como dizia Nietzsche: “a loucura entre indivíduos é rara, mas entre as multidões é regra”. Como - relembrando algo que gostaríamos de esquecer ou pelo menos apagar da nossa história - nasceram o nazismo e o fascismo: através do entusiasmo popular.

Uma nação entusiasmada pode ser maravilhosa ou, quem sabe, perigosa. As grandes emoções são poderes à mão de quem os veja, de quem os sinta; mesmo que seja prioritariamente para o mal. Na Copa realizada na Argentina em 1978, assim como na vitória brasileira em 1970 no México, a junta militar de tudo fez um pouco para encobrir seus erros, seus métodos; a sujeira instalada nesses regimes tendenciosamente fora jogada para debaixo do tapete vermelho de sangue da nossa população agredida, torturada, desaparecida. Por isso muitas vezes me levo a pensar se poderemos um dia endereçar esse entusiasmo que gastamos no futebol em algo positivo para a humanidade, pois afinal de contas o futebol e a Terra têm algo em comum: ambos são uma bola. E atrás de uma bola vemos crianças e adultos, brancos e negros, altos e baixos, magros ou gordos. Com a mesma filosofia, todos a fantasiar sobre a própria vida.

13/10/2003. Os ex-jogadores e irmãos Sócrates e Raí (d) durante jogo beneficente no estádio do Morumbi, na   capital paulista.

Sócrates e Raí  durante jogo beneficente no estádio do Morumbi, na capital paulista em 2003



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